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Rússia, a figura (mais) perversa representada nos mapas satíricos



Os mapas satíricos têm sido uma ferramenta poderosa de propaganda política ao longo dos séculos. Utilizados por motivos de conflito ou tensão, eles são a representação gráfica de preconceitos e ideias pré-concebidas sobre como alguns estados veem os outros.




A Rússia sempre foi o vilão representado nesse tipo de mapa. Ou o mais ruim. O mapa a seguir, datado de 1871, representa a Europa como vista por um nacionalista italiano e mostra a Rússia como um gigantesco e furioso açougueiro. ]


O autor aprova a então recente (1870) anexação italiana de Roma. O “monstro” francês está morto (Batalha de Sedan, de 1870, da guerra franco-prussiana que resultou na prisão de Napoleão III).


Os sacos de dinheiro alemães colocados diante de um ameaçador Guilherme I poderiam ser a contribuição que os franceses tiveram de pagar a partir de 1870, já que há um soldado prussiano comendo os bolos da Alsácia e Lorena e bebendo vinho francês. Por sua vez, a Grã-Bretanha é desprezada.


O mapa está cheio de ironia sobre aqueles que lutam por sua independência. A Grécia olha em um espelho por seus dentes perdidos há muito tempo, enquanto outras nações dos Balcãs são representadas como ovelhas, como a Sérvia, Bósnia, Albânia, e Bulgária.



Visão italiana da Europa, 1871

O mapa a seguir refere-se à Guerra da Crimeia no século XIX. É um exemplo de mapa satírico datado de 1856, razão pela qual pode ser considerado a primeira propaganda do gênero, o precursor de um estilo que devastaria a Europa nos próximos 70 anos.


O mapa é emoldurado pela Guerra da Crimeia, que enfrentou a Rússia e o Império Otomano, e é considerada a primeira guerra “moderna”. O confronto incluiu pela primeira vez, por exemplo, correspondentes de guerra, o que também indica o aumento do interesse da opinião pública pela conjuntura política internacional.


No mapa, a Rússia aparece como um urso com uma coroa imperial, empunhando um chicote. A Polônia aparece como um escravo, preso por uma corrente. As garras do urso correspondem à península da Crimeia, onde as frotas francesa e inglesa tentam cortar essas garras, em oposição à frota russa que aparece mais a leste como “nicht sichtbar” (não visível) já que o Tratado de Paris de 1856 estipulava que os navios russos não poderiam manter uma frota no Mar Negro.



Mapa satírico do campo de batalha ou vista aérea da Europa. 1856.

No seguinte mapa satírico, Bismark interrompe com um gesto a uma velha Rússia que por volta de 1875 (data da realização do mapa) mantinha uma estrutura social ancorada no passado, enquanto na Europa Central, formas de governo tendentes à democracia começaram a surgir.




Durante a era vitoriana, a publicação de mapas políticos satíricos era muito frequente. Tanto é que uma nova “corrente” começou. O Mapa Polvo, que segue o estilo iniciado por Joseph Goggin, é um dos mais conhecidos e representa os acontecimentos políticos do turbulento ano de 1877 na Europa, expressando a hostilidade britânica aos anseios expansionistas do Império Russo. Um dos grandes no desenvolvimento desses mapas foi, sem dúvida, o britânico Frederick Rose.



Mapa satírido da Europa (1877), Frederick Rose. Wikipedia.

Mesma figura para representar a Rússia, país diferente que usa a representação. O mapa a seguir foi produzido na segunda metade do século XIX por J.J. van Brederode, em Haarlem (Holanda). É mais um exemplo dos muitos mapas de cartografia antropomórfica que circulam pela Europa através dos quais se pretendeu ilustrar a tensa situação geopolítica do momento.




O polvo aparece em mapas satíricos para representar a Rússia de forma recorrente. Também no início do século XIX. No mapa a seguir você pode ver como o czar busca com seus tentáculos chegar à Polônia e à Finlândia, naquela época (1900) em pleno processo de absorção. Até a China sente a aproximação do polvo, cujos tentáculos também apontam para a Pérsia e o Afeganistão, enquanto outro ameaça mais uma vez o Império Otomano, que poderia ser novamente atacado pelo Cáucaso.




O polvo teve muito sucesso e até teve uma corrente de "continuação" que foi anos além, cerca de 25 anos desde que os primeiros mapas de sua “espécie” foram feitos. O seguinte mapa satírico japonês de 1904, pintado por Kisaburo Ohara, retrata a Rússia na forma deste molusco.


No texto no canto superior esquerdo, Kisaburo detalha porque ele pinta o polvo assim (opressor, tentando abraçar tudo ao seu alcance). É uma forma de mostrar apoio ao seu país (Japão) na luta que os impérios japonês e russo travavam naquele momento nas terras da Coréia e da Manchúria (1904-1905).



Mapa satírico japonês de 1904 pintado por Kisaburo Ohara, representando a Rússia como um polvo negro.

Sem dúvida, muitos detalhes desses mapas satíricos nos escapam. Não obstante, por meio desses mapas é possível perceber um claro viés de propaganda que sugere como a cartografia também foi utilizada como ferramenta de comunicação política. Graças a essas visualizações do século XIX, os autores conseguiram transmitir uma ideia geral das relações internacionais, sempre do ponto de vista do emissor.




Publicado na página Curiosidades Cartográficas do Facebook em: https://www.facebook.com/curiosidadescartograficas/posts/1612759575584237


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