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O minúsculo globo que coloca o mundo e o céu na palma da sua mão

A elegante esfera de Elizabeth Cushee, de 1745, estava ultrapassando os limites na época



As constelações foram impressas no interior do globo.
As constelações foram impressas no interior do globo. CORTESIA OSHER MAP LIBRARY

POR VOLTA DE 1745, ELIZABETH CUSHEE REDUZIU o mundo inteiro em um pequeno globo medindo apenas 7,62 centímetros de diâmetro. Criado a partir de tubos de papel curvados e colados em um orbe de madeira oco, o globo não pesa mais do que algumas gramas. Encaixando-se confortavelmente dentro de um estojo de pele de peixe, cujo exterior escamoso evoca o confete celestial de um céu noturno. Um punhado de constelações coloridas é colado no lado de dentro da peça, onde elas pairam sobre a terra e o mar. Continentes e cosmos se misturam em uma curiosidade do tamanho de uma ameixa.


Globos de bolso circulavam desde os anos 1600, especialmente entre marinheiros e estudantes de cartografia, escrevem os jornalistas de ciência Betsy Mason e Greg Miller em seu mais recente livro, All Over the Map: A Cartographic Odyssey. Naquela época, os trabalhos cartográficos variavam do erudito ao acessível, tanto em conteúdo quanto em preço. Atlas e cartas estelares luxuosamente ilustrados foram concebidos para um público leigo, enquanto abrangentes catálogos ajudaram os astrônomos e navegadores a obterem um rumo mais preciso. Cushee se encontrava em algum lugar no meio disso.


Os ventos alísios aparecem como centenas de setas minúsculas aqui.
Os ventos alísios aparecem como centenas de setas minúsculas aqui. CORTESIA OSHER MAP LIBRARY

Outros globos de bolso holandeses e ingleses dos séculos XVII e XVIII foram vendidos por 6 florins e 15 xelins, respectivamente, diz Miller – cerca de US$ 75 ou US$ 100 atualmente. Globos como o de Cushee “não eram acessíveis a todos, mas não eram apenas para os super-ricos”, diz Miller. “Eles eram o tipo de coisa que uma pessoa da classe média poderia comprar para projetar um certo ar de mundanismo e sofisticação. Eu posso imaginar totalmente um alpinista social do século 18 segurando um, em uma festa no jardim, para impressionar os seus amigos, ou talvez para arrogantemente explicar o cosmo para uma dama”.


Cushee não precisava ser condescendente. Sua edição foi uma melhoria em cima de um globo feito por seu falecido marido, Richard, um cartógrafo britânico, em 1731. Elizabeth atualizou a versão de Richard para estar de acordo com o conhecimento cartográfico da época, explicam Mason e Miller. Ela acrescentou setas para marcar o caminho dos ventos alísios e ligou a Califórnia à costa da América do Norte (anteriormente, a Califórnia flutuava como uma ilha). Ela também mapeou a rota de George Anson, um britânico que foi aplaudido como herói quando voltou para casa no ano anterior, após quatro anos viajando pelo mundo, importunando navios espanhóis e tomando rotas comerciais.



Os Cushees também ajustaram o modo como as constelações foram orientadas. A maioria dos globos e cartas celestiais da época mostravam as constelações da perspectiva de um Deus distante olhando para a Terra, diz Miller. Nas versões de Richard e Elizabeth, na Ursa Maior, o urso, olha para a direita, do jeito que a vemos quando olhamos para o céu. Algumas coisas estão um pouco fora – onde está a outra metade da Austrália? – mas espremer todos esses detalhes e informações em um volume tão pequeno, foi uma façanha.


Embora Miller não tenha conseguido extrair muita informação sobre a vida de Elizabeth Cushee, “não era incomum que as mulheres se envolvessem no negócio de cartografia familiar naquela época”, diz ele, “mesmo que nem sempre recebessem crédito por isso”. A criatividade cartográfica de Cushee a coloca entre as poucas mulheres que que fizeram mapas da Terra e ajudaram a entender os céus – muitas vezes com pouca fanfarronice mundana.








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