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O mapa mais antigo da Europa mostra um minúsculo reino da Idade do Bronze



 

PRINCIPAIS PONTOS

  • Em 1900, um historiador local descobriu uma placa de pedra curiosamente gravada numa sepultura da Idade do Bronze.

  • Idade da sepultura. Os pesquisadores demoraram quase um século para perceberem que poderia ser um mapa - mas nessa altura, a pedra já tinha desaparecido.

  • Redescoberta em 2014 e analisada até o início deste ano (2021), a placa é o mapa mais antigo da Europa ligado a um território

 


Estamos a cerca de 4.000 anos atrás, e você é o governante de um pequeno reino próspero da Idade do Bronze, lá no fim do mundo. Para comemorar seu sucesso, você encomenda um mapa de seu pródigo domínio: uma placa de pedra de 2,2 m por 1,53 m, representando uma área de 30 km por 21 km. Mas tudo que é bom, sempre acaba. Você, ou um de seus sucessores, é enterrado com a placa - quebrada para indicar a queda de sua dinastia.


Você ri por último, no entanto. O seu nome e o do seu pequeno império foram esquecidos, mas essa placa é agora reconhecida como o mapa mais antigo da Europa que pode ser comparado a um território - mesmo que os cientistas supostamente inteligentes de um futuro distante tenham levado mais de um século para descobrir isso.


Em suma, essa é a história da placa de Saint-Bélec. Em 1900, o arqueólogo Paul du Châtellier a recuperou de um cemitério pré-histórico em Finistère, departamento francês na extremidade oeste da Bretanha (seu nome significa “fim do mundo”).


Esperando por um Champollion


Depois de colar de volta, sem cerimônia, os pedaços da pedra quebrada com cimento, Du Châtellier reproduziu fielmente as marcações em sua superfície em um relatório, no qual ele anotou: “Alguns veem uma forma humana, outros uma forma animal. Não vamos deixar nossa imaginação levar o melhor de nós e vamos esperar por um Champolion [o egiptólogo que em 1822 decifrou os hieróglifos] para nos mostrar o que ela diz”.




Du Châtellier fez com que a pedra, pesando mais de uma tonelada, fosse transferida para sua antiga casa, o Château de Kernuz, onde manteve um museu particular. A placa foi colocada em um nicho próximo ao fosso do castelo. Após a morte do historiador pré-histórico amador em 1911, seus artefatos foram adquiridos pelo Museu Arqueológico Nacional da França em Saint-Germain-en-Laye, mas permaneceram no local.


A pedra definhou na obscuridade por décadas. Em 1994, pesquisadores revisitando o desenho original de Du Châtellier, descobriram que as intrincadas marcações na pedra se pareciam muito com um mapa. A própria pedra, entretanto, havia desaparecido. Ela foi “redescoberta” na adega do castelo apenas em 2014.


De 2017 até o início deste ano, pesquisadores do INRAP (Instituto Nacional de Pesquisa Arqueológica Preventiva da França) e de outras instituições realizaram uma extensa pesquisa sobre a placa. Sua conclusão foi publicada em março de 2021 no Bulletin de la Société préhistorique française.


E isso é espetacular: este é o primeiro exemplo conhecido na Europa de um mapa para o qual podemos identificar o território que ele representa. A placa foi gravada no início da Idade do Bronze (2150-1600 a.C.), o que a torna contemporânea do ‘Nebra Sky Disk’, um mapa do cosmo descoberto na Alemanha (mas não identificado de forma conclusiva com nenhuma constelação em particular).


Um mapa com 80% de precisão


Outro famoso mapa pré-histórico, de Bedolina em Valcamonica (norte da Itália), é datado mais tarde, da Idade do Ferro. A paisagem que ele representa não foi identificada; possivelmente é puramente imaginária.




A placa de Saint-Bélec é o primeiro mapa de seu tipo e idade que foi identificado com um determinado território. Os pesquisadores descobriram que as marcações na placa correspondiam à paisagem do Vale do Odet, com orientação leste-nordeste a oeste-sudoeste. Usando a tecnologia de geolocalização, os pesquisadores estabeleceram que o território representado na placa tem uma semelhança de 80% com uma área ao redor de um trecho de 20 km do rio Odet.


O mapa está centrado no atual município de Roudouallec, no departamento vizinho de Morbihan, mas também inclui a localização do cemitério em que foi encontrado, mais a oeste em Leuhan, bem como as encostas das Montagnes noires (Montanhas negras).


A superfície da placa foi trabalhada para representar as ondulações do terreno - tornando-a também o mapa 3D mais antigo da Europa. As linhas correspondem aos afluentes do rio. Acredita-se que várias outras marcações (círculos, quadrados) representem áreas em parcelas, assentamentos e/ou túmulos e talvez a antiga estrada de Tronoën a Trégueux. Um símbolo circular próximo à nascente do Odet (e de dois outros rios, o Isole e o Stêr Laër) pode representar a residência do governante local.


Ascensão e queda dos reinos da Idade do Bronze




O início da Idade do Bronze foi a época em que os primeiros estados primitivos emergiram na Europa Ocidental e, com eles, uma rede de intercâmbios comerciais, culturais e diplomáticos. Este era um mundo interconectado, e o mar que circunda a Bretanha em três lados era uma passagem, não uma fronteira. Em túmulos bretões daquela época, foram encontrados objetos originários do sul da Inglaterra e do norte da Espanha.


O estudo especula que o mapa pode ter sido feito como uma expressão de poder político. Mas o prestígio não precisa ser o único motivo. O mapa também pode ter servido como um registro de propriedade, para manter o controle de quem fez o quê e onde - e quanto eles deviam em impostos como consequência disso.


Qualquer que seja a finalidade a que serviu, a placa pode ter sido utilizada por séculos, antes de ser colocada em uma sepultura e quebrada nesse local - talvez um ato deliberado de iconoclastia, para indicar o fim do reino sem nome da Idade do Bronze. Talvez o mapa quebrado seja até mesmo um eco de uma mudança social mais ampla: o fim dos reis da Idade do Bronze como um todo. Afinal de contas, não seria a França sem uma revolução de vez em quando.



Para mais informações, veja esta entrevista com os pesquisadores Yvan Pailler e Clément Nicolas no INRAP (em francês).




Publicado na página Curiosidades Cartográficas do Facebook em: https://www.facebook.com/curiosidadescartograficas/posts/1683138858546308

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