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Durante a Lei Seca, as casas noturnas do Harlem mantinham as festas rolando

Um divertido mapa no estilo quadrinho, de 1932, mostra onde encontrar músicos famosos, jogatinas policiais e uma pessoa que vende marijuana


Por Greg Miller


Cab Calloway segura o som no Cotton Club enquanto as pessoas dançam o Lindy Hop no Savoy Ballroom
Cab Calloway segura o som no Cotton Club enquanto as pessoas dançam o Lindy Hop no Savoy Ballroom. MAPA CORTESIA DA COLEÇÃO MEMORIAL JAMES WELDON JOHNSON, BIBLIOTECA BEINECKE

A Lei Seca pode ter prejudicado as vendas de bebidas alcoólicas em grande parte dos Estados Unidos na década de 1920 e início dos anos 30, mas não interrompeu a festa no Harlem. O mapa acima, criado em 1932, mostra uma vida noturna agitada centrada em locais de jazz de Nova York, como o Cotton Club e o Savoy Ballroom. O mapa está repleto de caricaturas de músicos famosos e duvidosos habitantes da cena noturna, bem como dicas úteis para os foliões.


“É fantástico”, disse Melissa Barton, curadora de drama e prosa da Coleção de Literatura Americana da Biblioteca Beinecke da Universidade de Yale. “Ele está repleto de detalhes”.


O mapa informa aos leitores que “nada acontece antes das 2h” no Club Hot-Cha, e sugere que “perguntem por Clarence”. No Cotton Club, Cab Calloway lidera “uma das revistas mais rápidas de Nova York”. Perto dali, Earl Tucher “Snakehips” pratica “aquela dança esquisita – o “Snakehips””. Tucker foi o pioneiro no tipo de movimentos fluidos e saltitantes, mais tarde associados ao hip hop (felizmente, eles foram imortalizados no YouTube, então você pode ver por si mesmo). Um Reefer man trabalha na esquina da Avenida Lenox com a 110th Street (“Cigarros de marijuana, 2 por US$ 0,25”)


Uma coisa que não está no mapa: bares clandestinos. “Mas, como há cerca de 500 deles, você não terá muitos problemas”, o mapa tranquiliza os leitores. Os homens espalhados pela rosa dos ventos em vários estados de embriaguez (canto inferior direito) parecem sugerir que isso era verdade.


Em todo o mapa – até mesmo dentro da delegacia de polícia – as pessoas estão perguntando umas às outras variações de “Qual é o número? ”, uma referência a loterias ilegais administradas por gangsters. Elas funcionavam como uma loteria do tipo ‘Pick 3’ moderna, diz Barton. Os jogadores escolhiam três números, e o número vencedor era determinado pelo número de fechamento do dia para a Dow Jones Industrial Average, ou por algum outro número vinculado ao mercado de ações (uma maneira tão boa quanto qualquer outra de gerar números aleatórios nos dias anteriores aos computadores).


O criador do mapa foi E. Simms Campbell, que trabalhou na revista Esquire por 25 anos e teve seu trabalho distribuído em outras publicações. “Ele é considerado o primeiro ilustrador afro-americano bem-sucedido comercialmente”, diz Barton. Campbell fez o mapa das casas noturnas do Harlem para uma revista de curta duração chamada Manhattan: A weekly for wakeful New Yorkers, dois anos antes de ser contratado pela Esquire.


A Manhattan tinha um público leitor semelhante ao da Esquire, diz Barton: “morador de Manhattan, predominantemente branco, classe média”. Os leitores gostavam de pensar que estavam participando das piadas de Campbell, mas também eram alvo delas. Campbell pode tê-los visto como genuinamente curiosos, mas um pouco sem noção.


“Há conselhos reais no mapa, mas ele também zomba desses moradores do centro que estão correndo para o Harlem em seus casacos de pele para aproveitar os clubes”, diz Barton.


O "Reefer Man" exerce o seu ofício em uma esquina enquanto casais bebem e dançam em clubes próximos.
O "Reefer Man" exerce o seu ofício em uma esquina enquanto casais bebem e dançam em clubes próximos. MAPA CORTESIA DA COLEÇÃO MEMORIAL JAMES HELDON JOHNSON, BIBLIOTECA BEINECKE

O mapa de Campbell também parece sugerir alguns temas mais sombrios. Na época em que o mapa foi feito, a Depressão estava atingindo fortemente o Harlem, diz Barton. “Cinquenta por cento dos afro-americanos estavam desempregados em 1932”, diz ela.


No mapa, um cego com uma bengala vende jornais na Avenida Lenox e um caminhão de mudança perto do topo está sendo carregado, talvez com os pertences de uma família que perdeu sua casa.


A Biblioteca Beinecke adquiriu a arte original do mapa em 2016. O desenho em aquarela e tinta está atualmente (2017) em exibição em uma exposição sobre o Renascimento do Harlem, com curadoria de Barton. Embora os estudiosos normalmente pensem no Renascimento como um movimento literário – uma época em que escritores e artistas visuais afro-americanos ganharam reconhecimento do público em geral por seu trabalho – os clubes de jazz do Harlem ajudaram esse movimento, gerando interesse pela cultura afro-americana e fazendo-a parecer glamorosa a uma faixa maior da sociedade americana, diz Barton.


Além disso, ela acrescenta, a vida noturna ajudou a atrair todos aqueles escritores e artista para o Harlem em primeiro lugar. “A cena noturna é uma grande parte do que torna o Harlem tão popular neste período”.


Olhando para o mapa de Campbell, não é difícil entender por que.








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