Por Iñigo Alloza
Nos últimos meses (a reportagem é de dezembro de 2020), publicamos vários artigos sobre a geografia e a história dos Países Bálticos. Esta é a forma como chamamos as três repúblicas do norte da Europa localizadas ao longo da costa oriental do Mar Báltico.
De modo geral, em termos geopolíticos, econômicos, turísticos, a Lituânia, a Letônia e a Estônia tendem a ser agrupadas como um bloco unificado. Porém, como vimos, não o são até as suas respectivas independências, quando eles passam a ser conhecidos coletivamente por este nome.
Embora existam fortes laços entre os três países e eles compartilhem aspectos geográficos e episódios históricos comuns, vimos ser necessário destacar suas diferenças.
Quais são realmente os Países Bálticos?
Culturalmente, etnicamente e linguisticamente, apenas a Letônia e a Lituânia podem ser considerados povos “bálticos”, já que os estonianos falam uma língua finlandesa e demonstram grande afinidade com os finlandeses. Letões e lituanos modernos conservam as únicas línguas sobreviventes dos Bálticos, um grupo de tribos indo-europeias que se estabeleceram entre o baixo Vístula e o alto Daugava e Dnieper, há 5.000 anos.
Os lituanos, com plena consciência nacional, compartilham seu futuro desde o início da Idade Média, junto com poloneses, bielorrussos e ucranianos. No entanto, letões e estonianos, diluídos e subjugados por outros povos, não forjaram sua própria identidade até o final do século XIX.
Em 2018, foi celebrado o centenário da primeira independência das Repúblicas Bálticas e, portanto, estes três países se coordenaram para emitir uma moeda comemorativa de 2 euros:
Pequenos entre gigantes
Os movimentos de fronteira sempre trazem mudanças. Assim, durante séculos, lituanos, letões e estonianos foram minorias em Estados multiétnicos muito maiores. O desmembramento destes e a formação de suas próprias repúblicas, transformaram em minorias as antigas “maiorias” (como alemães e russos).
Em qualquer caso, a atual demarcação e idiossincrasia destes três países são o resultado de séculos de conflitos, mudanças territoriais e dominação de outros povos vizinhos em alguns momentos e colaboração frutífera em outros. Vamos rever brevemente a geografia de suas fronteiras.
Lituânia: resistência à dominação estrangeira
Ao contrário da Estônia e da Letônia, a Lituânia vive há séculos de costa para o mar. Seu território faz parte da grande Comunidade Polaco-Lituana que tem dominado Belarus e a Ucrânia durante séculos.
A Kláipeda não foi anexada até 1923; a cidade, que se chamava Memel, é alemã desde a sua fundação em 1252. Nos arredores de Vilna vive uma importante minoria polaca, cujas origens remontam aos séculos XVI e XVII.
Na verdade, a história da Lituânia está intimamente relacionada com a da Polônia e é por isso que ela difere dos seus dois vizinhos bálticos (Estônia e Letônia) em aspectos culturais ou religiosos. Em particular, os lituanos são predominantemente católicos, enquanto os letões e estonianos são protestantes.
As cinco regiões históricas da Lituânia (Samogitia, Aukštaitija, Dzūkija, Suvalkija e Lituânia Menor), ocupam a mesma área desde que as primeiras tribos bálticas se estabeleceram no território.
Sua resistência ao domínio estrangeiro fez com que as fronteiras do povo lituano permanecessem inalteradas por mais de um milênio. Talvez seja também por isso que, atualmente, entre os países bálticos, a Lituânia é a que têm a população mais homogênea (85% de lituanos) e o lituano é a língua materna e, oficialmente, majoritária.
Letônia: um pequeno país entre grandes impérios
Dos países bálticos, a Letônia é o país intermediário. Tanto pela sua própria localização geográfica, como pelo seu número de habitantes e pela sua superfície. Nem tão populosa nem tão extensa como seu vizinho do sul, a Lituânia, nem tão pequena quanto a Estônia.
A língua letã é, juntamente com o lituano, a única língua báltica que existe hoje. Mas, enquanto a Lituânia está intimamente ligada à Polônia, a história da Letônia está ligada à da Estônia.
A Letônia se encontra em ambos os lados do poderoso Daugava. Na sua foz, Riga, a capital, é o lar de um terço da população da república. Antes da independência, a parte do país ao sul de Daugava era chamada de Curland (capital, Mitau; em letão, Jelgava); a parte norte formava, com o sul da atual Estônia, Livonia (capital, Riga).
Uma grande proporção de russos permanece na região de Daugavpils (Livônia interior), que se uniu à Rússia em 1772. Os russos são numerosos naquela região e também em Riga, cuja população alemã e judaica desapareceram após a Segunda Guerra Mundial. A fronteira sul com a Lituânia permaneceu essencialmente inalterada desde o século XIII. Em contraste, a fronteira norte com a Estônia data de 1921.
Estônia: o mais nórdico dos países bálticos
Habitada desde a pré-história por povos finlandeses, que são também a origem dos finlandeses de hoje, a história da Estônia é semelhante à de sua vizinha Letônia. No entanto, a língua estoniana não tem nenhuma relação com as línguas originárias dos outros dois estados bálticos, o lituano e o letão, ambos as quais são línguas bálticas.
O estoniano pertence ao grupo finlandês e foi fortemente influenciado pelo alemão. Além disso, os estonianos tendem a pensar em si mesmo como um estado nórdico. Sua afinidade com a Finlândia, um passado como parte integrante da Dinamarca e da Suécia, e os padrões de vida “escandinavos” motivam os estonianos a procurarem a adesão deste seleto grupo.
A fronteira oriental da Estônia data do século XIII; é uma das mais antigas da Europa. Em contraste, a fronteira sul foi estabelecida em 1921, seguindo critérios étnicos. Os russos são numerosos no nordeste do país, em Tallinn e em outras cidades.
As duas ilhas da Estônia são mais conhecidas por seus nomes escandinavos: Dagö (Hiiumaa) e Ösel (Saaremaa). Antes da independência da Estônia, Tallinn e Tartu eram oficialmente referidas pelos nomes (germânicos) de Reval e Dorpat. A Estônia mantém uma fortes laços com a Finlândia e com o resto dos países nórdicos em todos os níveis.
*Nota: toda a cartografia foi desenhada por Anne Le Fur, para o Atlas dos Povos da Europa Central, 2008, Jean Sellier & André Sellier
Publicado na página Curiosidades Cartográficas do Facebook em: https://www.facebook.com/curiosidadescartograficas/posts/1791313024395557
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